Pareço estar sempre bem, e, no fundo, sempre estou. Quando me perguntam se está tudo bem, posso até olhar pro lado, dar um suspiro e disfarçar com um sorriso amarelo, mas, descarada que sou, sempre digo que sim. Dizem por aí que uma mesma mentira dita mil vezes vira verdade. E não é que vira mesmo? É a minha verdade. Tão minha que eu mesma inventei. Às vezes até bate um arrependimento quando me lembro de minha mãe me ensinando a dizer sempre a verdade, acima de tudo. Mas repito pra mim mesma um trechinho de Mário Quintana que se tornou, para mim, uma oração:
“Não há coisa na vida inteiramente má.
Tu dizes que a verdade produz frutos...
Já viste as flores que a mentira dá?”
Se é fruto da verdade ou da mentira, não me importa. O fato é que dizer que tá tudo bem mesmo quando o mundo parece desabar sobre a minha cabeça tornou-se uma forma de não aceitar que qualquer coisinha seja capaz de me abalar as estruturas e me cegar ao ponto de não conseguir enxergar colorido em meio à escuridão. Deixo minha mentira transformar-se numa verdade florida. Assim sigo. Assim tudo se resolve.
E, a propósito, antes que me perguntem, tô bem, tô em paz. Tô feliz.
marianne a.